Uma disputa no início de um Dérbi importante, ainda em 2020, ajudou a criar uma brincadeira que hoje também é uma referência no time do Palmeiras. Antes opção de criatividade no setor ofensivo, Zé Rafael se consolidou no time com a força como um dos seus atributos de destaque.
“É o Trem”, como dizem os palmeirenses, que já fez rivais sofrerem em disputas importantes recentes e promete dedicação no Mundial de Clubes da Fifa.
– Esse apelido aí eu nem imaginava que fosse pegar. Foi uma brincadeira feita depois da final contra o Corinthians. E teve um lance específico que eu acabei dividindo com o Fagner, uma coisa assim, e saiu uma foto em que ele estava tipo assim, caindo no chão, e eu em pé, meio de boa. Depois disso a gente foi campeão, eu postei a foto e os meninos começaram a zoar, né? “É o trem, atropelou…”. E aí foi pegando – disse o jogador, em entrevista ao ge, recordando também um lance em outro clássico.
– Os meninos brincaram também com esse lance, com o Daniel (Alves), uma jogada meio característica minha, de transição com a bola. Sou um cara que consegue fazer essa transição conduzindo a bola com alguma facilidade, e ele acabou tentando entrar no meu corpo e acabou não dando certo. E a jogada deu em gol. Aí fica essa zoeira para o pessoal da internet, que a gente não se envolve muito e só aceita (risos). Bem legal e um negócio bem marcante.
Antes opção de criatividade e chegada ofensiva, Zé Rafael se reinventou como destaque na marcação e virou referência defensiva de um time que se acostumou com títulos importantes nos últimos anos. O próximo pode ser o Mundial de Clubes da Fifa, que terá início para os palmeirenses na terça-feira, contra o Al-Ahly, do Egito, na semifinal do torneio, às 13h30 (de Brasília).https://imasdk.googleapis.com/js/core/bridge3.496.0_pt_br.html#goog_190014174
Na temporada de 2021, marcada pelo bicampeonato da Libertadores, o meio-campista foi o líder de desarmes e em ações defensivas.
– Meu estilo ali no meio de campo tem muita ação física, é um lugar do campo que você precisa estar firme e forte, porque é onde acontece a maior parte das ações. E na maioria das vezes eu consigo participar bem desses duelos. Aí os caras começaram a pegar no pé, que é o trem, que está amassando os caras. Aí foi pegando, os caras da torcida na internet viram e gostaram e foi ficando. E agora os caras meio que adotaram esse negócio. Não tem como tirar mais.
A boa fase é tanta que o Zé Rafael não se vê mais como aquele atleta que atraiu atenção do Palmeiras, um armador mais clássico com possibilidade de cair pelos lados do ataque. A realidade é outra a partir de agora.
– Eu era ponta e meia e tinha muita ação de corredor, de muita intensidade, porque você acompanha o lateral. E depois sai na transição. O meio de campo é um lugar assim que você aparentemente não corre muito em distância de alta intensidade, mas em espaço curto você não para de correr o tempo inteiro. Foi uma função que eu me adaptei – analisou.
– Eu tinha uma função física já boa porque eu jogava de ponta e sempre fui um cara que aguenta jogar o jogo inteiro. Só tive que mudar algumas características por causa da função e do local do campo. Mas foi uma coisa bem rápida, e bem fácil de adaptar. Hoje estou ali, não volto mais para ponta e nem para a meia, de jeito nenhum – completou.
Nas horas vagas de um calendário quase sempre apertado por disputas importantes, Zé Rafael tem aproveitado para se dedicar a outro esporte que tem a força como um dos seus atributos importantes: o boxe. A novidade na rotina foi além da questão física, mais importante até na questão emocional e psicológica para o meio-campista.
– Foi uma válvula de escape muito boa que eu tive num momento em que eu não estava tão bem. Psicologicamente, acho que eu estava sofrendo muito, com muita pressão, muito desgaste e precisava achar uma atividade para tentar espairecer a cabeça. E foi no boxe que eu encontrei, consegui me achar, e comecei a fazer as aulas, peguei gosto. Agora não consigo mais largar, é um negócio que realmente me fez muito bem. Estou tentando melhorar, aprendendo e evoluindo.
Recuado para a nova função no início da temporada de 2020, Zé Rafael se sente mais adaptado iniciando agora a terceira grande sequência na função. Elogiado pela comissão técnica de Abel Ferreira, é considerado titular absoluto do time que se prepara em Abu Dhabi para jogar mais um Mundial de Clubes.
Garantido na semifinal, o Verdão terá pela frente o Al Ahly, do Egito, em reedição da disputa do terceiro lugar do ano passado. Do outro lado da chave, a expectativa é para um encontro com o Chelsea, da Inglaterra, na final e um possível duelo de força com Lukaku, atacante do time inglês.
– O trem também tem que saber o trilho onde ele pode correr, né (risos)? O Lukaku deve ter uns 95 quilos, deve ter uns quase 30 quilos a mais do que eu. Eu vou deixar ele para o Gustavo Gómez ali, eles que se entendam. Eu vou pegar um cara do meu tamanho ali no máximo e está ótimo. E vamos que vamos. Esse daí não dá pra trombar não, o homem é grande (risos).
Veja outros trechos da entrevista com Zé Rafael:
A função no meio de campo
– Adoro fazer gols, adoro dar dribles, fazer jogadas bonitas, e todo mundo que assiste espera isso, mas nem todo mundo entende que cada um tem uma função dentro de campo, né? Então, a gente sabe que os nossos meias têm cada vez mais liberdade para fazer essas jogadas, para fazer gols, nossos atacantes… e às vezes as pessoas que não compreendem muito do futebol em si, acabam passando despercebidas, essas funções invisíveis. Não aparece muito para o jogo, mas às vezes se você tira aquela peça dali, acaba desmontando todo o quebra-cabeças.
Preparação para o Mundial melhor em 2022?
– Isso, eu acredito que sim. Não necessariamente ter tido as férias, mas no ano passado foi muito curto. Se a gente tivesse uma preparação como estava sendo antes, de 2019 para trás, jogava a Libertadores e aí tinha uns 15 dias até jogar o Mundial, era outra coisa, outra preparação. Você sabe, vai para o lugar, entra no clima da competição e se prepara especificamente para ela. E é isso que está acontecendo hoje. Acho que a gente vai chegar bem preparado, bem melhor do que foi no ano passado, numa condição muito boa de representar o Palmeiras da maneira que deve ser. Acredito que a gente vá conseguir fazer um grande torneio.
Característica de jogo mais físico
– Acho que a parte física me ajuda bastante. Sou um cara que trabalha bastante durante os treinamentos, sempre tento estar na melhor das condições possíveis. Além da parte técnica, a parte física tem muita diferença. Se você pegar um grande jogador, qualquer craque que não estiver bem fisicamente, ele já se torna um jogador comum, né? Tem que estar muito bem preparado para fazer essa função do meio-campo, chegar na área com parte ofensiva, proteger na parte defensiva. É um setor do campo que exige muito.
Fonte: Por Felipe Brisolla, Felipe Zito e Thiago Ferri — Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, e São Paulo