Segundo a Polícia, surgiram evidências de “tratativas para execução de um golpe de estado” e “tentativa de abolição violenta” do regime democrático
O Exército deve uma a Lula e a José Múcio, ministro da Defesa. Eles sabiam o que faziam, na sequência do 8 de Janeiro, quando decidiram revogar a promoção do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid.
Antigo chefe da Ajudância de Ordens de Jair Bolsonaro, ele havia sido nomeado meses antes para o comando do Primeiro Batalhão de Ações de Comando, sediado em Goiânia, a 200 quilômetros de Brasília.
No comando dessa unidade, Mauro Cid teria caminho livre para o generalato. Trata-se de uma força de elite do Exército, especializada em ações de sabotagem e contrainformação. Seus integrantes são recrutados em quartéis — oito em cada dez desistem durante o treinamento.
O tenente-coronel já era personagem de inquéritos no Supremo Tribunal Federal, por cumplicidade com Bolsonaro em crimes contra a Constituição e o regime democrático.
A resistência em cumprir ordens do Planalto, entre elas a de revogar a entrega do Batalhão de Ações de Comando ao ajudante de ordens de Bolsonaro, levou à demissão do general Júlio César de Arruda, 23 dias depois de assumir o Comando do Exército.
Mauro Cid foi preso ontem a pedido da Polícia Federal. Na justificativa, admitida pelo juiz Alexandre de Moraes, do STF, o tenente-coronel está retratado como elo de Bolsonaro com milícias numa conspiração política.
Na investigação sobre fraudes em atestados de vacina para Bolsonaro, assessores e familiares, relatou a Polícia Federal ao juiz, surgiram evidências de “tratativas para execução de um golpe de estado” e “tentativa de abolição violenta” do regime democrático.
Os trechos transcritos por Moraes no mandado de prisão de Mauro Cid, por fraude em documentos do Sistema Único de Saúde, não detalham quais seriam os indícios ou provas disponíveis sobre o envolvimento dele e de Bolsonaro num plano para golpe de estado.
Indica apenas que ambos contavam com a colaboração de milícias digitais e, também, mantinham laços com uma fração do crime organizado de Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense. Neste caso, Mauro Cid estaria atuando com um militar da reserva, Ailton Gonçalves Moraes Barros, “e pessoas ainda não identificadas”.
Para a polícia, “seja nas redes sociais, seja na realização de inserções de dados falsos de vacinação contra a Covid-19, ou no planejamento de um golpe de Estado, o elemento que une seus integrantes está sempre presente, qual seja, a atuação no sentido de proteger e garantir a permanência no poder”.
Acrescenta: “A milícia digital reverberou e amplificou por multicanais a ideia de que as eleições presidenciais foram fraudadas, estimulando aos seus seguidores ‘resistirem’ na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para uma intervenção federal comandada pelas forças militares, sob o pretexto de aturarem como um Poder Moderador, com base em uma interpretação peculiar do art. 142 da Constituição Federal.”
“Os arquivos de áudio e capturas de tela de mensagens trocadas no aplicativo WhatsApp” — prossegue — “evidenciaram a arquitetura do plano criminoso pelo grupo investigado. Apesar de não terem obtido êxito na tentativa de golpe de Estado, sua atuação, possivelmente, foi um dos elementos que contribuíram para os atos criminosos ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023.”
O relato policial foi aceito pelo juiz, que deu prazo até a segunda-feira 3 de julho para apresentação das evidências.
Ao impedir a ascensão de Mauro Cid ao comando do Primeiro Batalhão de Ações de Comando, Lula e o ministro José Múcio livraram o Exército de um grande constrangimento.
Fonte: Paraíba já
Redação: pbaqui.com.br